O segredo é manter corpo e mente sempre ativos, aliado a hábitos de vida saudáveis e uma postura positiva perante a vida.
Como qualquer boa máquina, o cérebro precisa de cuidados e atenção ao longo dos anos para garantir que ele continue funcionando bem. Mas, no lugar de um manual de manutenção, tudo o que temos são conselhos normalmente contraditórios e confusos vindos da comunidade científica. A BBC Future peneirou as evidências e encontrou seis maneiras promissoras de afiar a inteligência. Conheça-as.
Quem nunca experimentou a sensação de entrar em
uma sala e logo em seguida perceber que esqueceu o que
tinha ido fazer ali?
Temos a tendência a acreditar que a perda de memória é um problema
decorrente do envelhecimento. Mas a verdade é que esses lapsos podem
afetar jovens ou idosos com a mesma frequência e intensidade.
Por isso, não deveríamos nos apressar em assumir que tudo é culpa
da idade, já que dúvidas podem ser uma espécie de autoprofecia.
Nos últimos dez anos, Dyana Touron, da Universidade da Carolina
do Norte, descobriu que com a idade, temos a tendência de perder a
confiança nas nossas habilidades mentais, mesmo quando elas estão
funcionando perfeitamente.
O resultado é que acabamos dependentes de “muletas”, como o GPS
do carro ou a agenda do celular.
Mas, ironicamente, ao não nos colocarmos diante de desafios, podemos acelerar
nosso próprio declínio mental.
Portanto, se você se encontrar diante de uma porta não sabendo onde deveria
estar, veja a situação como uma oportunidade para forçar um pouco mais
a memória.
A mente sofre se for isolada dos cinco sentidos. E a perda auditiva parece detonar a perda da massa cinzenta do cérebro, provavelmente por colocar uma ênfase na atenção e por nos bloquear de estímulos úteis. Segundo um estudo americano, o problema aumenta em 24% o risco de atraso cognitivo durante um período de seis anos. Qualquer que seja a sua idade, vale a pena ter consciência das situações que poderiam estar acelerando a deterioração da audição. Escutar música em alto volume por apenas 15 segundos por dia já é suficiente para prejudicar os ouvidos. Até mesmo o uso de um secador de cabelos por 15 minutos diários pode danificar as minúsculas células que captam o som. E se você acha que já está sofrendo de perda auditiva, procure um médico. Cortar o problema pela raiz pode conter o declínio.
Em vez de dedicar vários minutos do dia a algum passatempo ou aplicativo que promete
“treinar seu cérebro”, que tal tentar um exercício mental mais ambicioso, como
aprender a tocar um instrumento ou falar uma nova língua?
Ambas as atividades requerem uma ampla gama de habilidades, exercitando a memória,
a atenção, a percepção sensorial e o controle de motricidade enquanto você
tenta executar uma nova canção ou pronunciar os sons estranhos de novas palavras.
Os benefícios tendem a durar até a idade avançada. Um estudo publicado no ano
passado descobriu que músicos têm 60% menos chances de desenvolver demência
do que as pessoas que não tocam instrumentos. Outra pesquisa mostrou que falar
outro idioma pode atrasar em cinco anos o diagnóstico do mal de Alzheimer.
O aprendizado também ajuda um indivíduo a valorizar suas habilidades. E se você
acha que trabalha demais e não tem tempo para isso, considere-se sortudo: um trabalho
mais estimulante ajuda a conservar as faculdades mentais, apesar de os benefícios nem sempre durarem até a aposentadoria.
A obesidade pode prejudicar o cérebro de muitas maneiras. O acúmulo de
colesterol nas artérias pode restringir o fluxo sanguíneo para o cérebro, deixando-
o sem os nutrientes e o oxigênio que ele precisa para funcionar bem.
Além disso, os neurônios são bastante sensíveis ao hormônio insulina, produzido
pelo pâncreas. Comer alimentos doces e calóricos com frequência pode
embaralhar a liberação da insulina, dando início a uma reação em cadeia que
leva à produção de placas letais que podem se acumular no cérebro.
A boa notícia é que certos nutrientes – como o ômega-3 e outros ácidos graxos,
e as vitaminas D e B12 – parecem ter um efeito “limpante” e reduzem os
prejuízos provocados pela idade no cérebro.
Isso pode explicar por que idosos que sempre mantiveram uma dieta tipicamente
mediterrânea – à base de peixes, legumes, verduras e baixo teor de
gordura – tendem a mostrar as mesmas habilidades cognitivas que pessoas
sete anos mais novas.
Gostamos de fazer uma distinção clara entre o corpo e a mente,
mas, na realidade, estar em boa forma física é uma das melhores
maneiras de manter o cérebro funcionando bem.
A atividade física não só estabelece um melhor fluxo sanguíneo
para o cérebro, mas também libera uma grande quantidade de
proteínas que ajudam a estimular o crescimento e a manutenção
de conexões neurais.
Os benefícios são notados desde o berço: crianças que vão a pé
para a escola costumam tirar melhores notas, enquanto idosos
que fazem caminhadas regulares – mesmo que não sejam vigorosas
– têm mais concentração e memória.
Se todas essas mudanças de rotina parecem algo difícil de adotar, saiba que uma
das melhores maneiras de proteger o cérebro dos efeitos do tempo é socializar.
O ser humano é uma criatura social, e nossos amigos e parentes nos estimulam,
nos desafiam a ter novas experiências e nos ajudam a descarregar o estresse e
as mágoas.
Surpreendentemente, um estudo com voluntários com idades em torno de 70
anos mostrou que os mais ativos socialmente tinham 70% menos chances de
experimentar um declínio cognitivo em um período de 12 anos, em comparação
com aqueles com uma vida mais reclusa.
Da memória e da atenção à velocidade de processamento mental, tudo parece se
beneficiar do contato regular com outras pessoas.
Ou seja, não há uma fórmula mágica única para treinar o cérebro. As pessoas que
envelhecem melhor têm um estilo de vida que incorpora um pouco de tudo: uma
alimentação variada, atividades estimulantes e um círculo de amigos queridos.
Uma receita que também vale para quem quer ter uma vida feliz e saudável.
(Reprodução de reportagem de David Robson, da BBC Future)