Luis Carlos Cardoso: força e superação

Data de Postagem: 30/07/2016

A trajetória do atleta: da carreira na dança interrompida à consagração como atleta da paracanoagem nos Jogos Paralímpicos Rio 2016

O paracanoísta da Associação se prepara para o maior desafio da sua vida: representar o Brasil nos Jogos Paralímpicos Rio 2016. Ele conquistou a vaga na categoria KL1 Masculino, no caiaque, e brigará pela medalha de ouro com os nove melhores atletas do mundo no maior evento esportivo do planeta.

Até a consagração olímpica, Luis acumulou feitos: foi primeiro atleta na história da paracanoagem a conquistar o ouro em duas modalidades diferentes em um único mundial, na canoa e no caiaque, no ano passado. O título mundial no caiaque veio apenas alguns meses após o canoísta passar a treinar neste tipo de embarcação, já que somente ela integra o leque de modalidades paralímpicas. Tetracampeão mundial na canoa, ele teve de adaptar-se e correr contra o tempo. Deu certo e ele desbancou o favorito à vaga, o ex-BBB Fernando Fernandes, quatro vezes campeão mundial no caiaque.

No Campeonato Brasileiro de Paracanoagem, o atleta de Picos (PI) radicado em São Bernardo perdeu a conta de quantas medalhas conquistou. As primeiras, uma de prata e outra de bronze, vieram em 2011, apenas seis meses após Luis ser apresentado ao esporte. A paracanoagem entrou na vida do atleta durante o processo de reabilitação, indicada pela fisioterapeuta, e trouxe um novo sentido à vida do rapaz que sempre teve paixão por esportes.

Antes de ficar paraplégico em 2009 por conta de uma infecção na medula, Luis era dançarino profissional e passou por vários grupos de forró, até entrar na banda de Frank Aguiar, onde além de dançar, era coreógrafo. Logo após a notícia da paraplegia, perdeu a mãe. Ainda assim, não deixou se abater.

“Eu sempre falo que a canoagem foi um presente e uma resposta que Deus me deu a todas as minhas indagações”, conta ele. “Não fiquei parado, observando o que estava acontecendo comigo, reclamando e brigando com Deus porque que eu estava daquela forma, porque Ele me deixou assim. Não, eu transformei tudo isso em substância e isso me deu motivação para seguir em frente”, revela Luis, que tem 31 anos.

A seguir, você confere uma entrevista com o atleta, que conta a sua história de superação, força e determinação.

Revista Associação Clube: Como começou seu contato com a canoagem?
Luis Carlos Cardoso:Em 2011, eu estava há quase um ano na fisioterapia. Minha fisioterapeuta me indicou a canoagem porque acreditava que isso poderia me ajudar no processo de reabilitação, na melhora do equilíbrio e da força de tronco. Fui apresentado ao esporte e no começo nunca pensei em ser um atleta de alto rendimento, vim para tentar evoluir, mas de cara me apaixonei pela canoagem, pela liberdade e contato com a natureza. Vendo que poderia ir mais longe, comecei a investir toda minha força e garra e, para surpresa de todos, em alguns meses de treino já ganhei minhas primeiras medalhas no Campeonato Brasileiro, um bronze no caiaque e uma prata na canoa, que me colocou na seleção brasileira, onde estou até hoje.

RAC: O esporte foi importante na ressignificação da sua vida após a paraplegia?
LCC: Foi fundamental. Sete anos atrás, quando minha carreira de dançarino foi interrompida pela paraplegia, cheguei a acreditar que nunca mais viveria algo tão maravilhoso quanto a dança. Fiquei sem saber o que fazer com a minha vida, como dar um novo sentido a ela. Até que fui apresentado à canoagem, e senti nela aquela mesma alegria que a dança me trazia. Eu sempre falo que a canoagem foi um presente e uma resposta que Deus me deu a todas as minhas indagações.

RAC: Olhando para trás, tem orgulho de ser quem você é?
LCC: Sim, por tudo que passei, eu transformei o sofrimento em substância para que pudesse me alimentar e de alguma forma pudesse evoluir. Não fiquei parado, observando o que estava acontecendo comigo, reclamando e brigando com Deus porque que eu estava daquela forma, porque Ele me deixou assim. Não, eu transformei tudo isso em substância e isso me deu motivação para seguir em frente. E agarrei todas as oportunidades que apareceram.

RAC: Quais as suas principais conquistas?
LCC: Sou tetracampeão mundial na canoa e, no ano passado, fui o primeiro atleta da história da paracanoagem a conquistar o ouro em duas modalidades diferentes em um único mundial, na canoa e no caiaque. A última conquista no Mundial da Alemanha foi o bronze no caiaque e o ouro na canoa, em maio. Fora as conquistas nos Pan-Americanos e Sul-Americanos, além das medalhas no Campeonato Brasileiro.

RAC: Você sempre foi um atleta da canoa. Como foi receber a notícia que somente o caiaque faria parte das modalidades paralímpicas?
LCC: No primeiro momento foi um choque, por tudo que eu já tinha construido com a canoa, tinha acabado de ser campeão mundial, e também pelas consequências, porque eu vivo da modalidade e é por meio do esporte que eu pago as pessoas que trabalham comigo. E eu tinha trauma do caiaque, porque quando comecei a remar eu virava muito a embarcação porque ela tem menos estabilidade, aquilo ficou no meu inconsciente. Mas era a única chance que eu tinha, então eu agarrei com todas as forças. Comecei a treinar em março de 2015, sempre conversando com meu técnico Akos Angyal para que eu pudesse evoluir rápido. Graças a Deus, deu certo. Passei pelas seletivas e entrei na seleção de paracanoagem também de caiaque, além da canoa. Para a nossa surpresa, com poucos meses de treino conquistei o título do caiaque no mundial.

RAC: Qual o seu foco agora nos Jogos Paralímpicos Rio 2016?
LCC: O foco agora é conquistar a medalha de ouro nos Jogos. Estou trabalhando intensamente para isso, estamos revendo os erros que eu cometi para melhorá-los e fazer com que eu possa subir no pódio nas Paralimpíadas. A preparação é toda voltada pra isso: meu plano de treino, a parte psicológica, alimentação, tudo no meu dia a dia é com foco somente nos Jogos. Tento abstrair outros fatores para não atrapalhar a minha desenvoltura durante as provas.

RAC: Você foi o atleta que garantiu a vaga na sua categoria para o Brasil, depois conseguiu ser o paracanoísta que representará o país nos Jogos Paralímpicos. Todas essas conquistas se devem a quê?
LCC: Primeiramente a Deus, porque sem Ele nós não somos nada, eu não teria conseguido chegar até aqui sem Deus em meu coração, pela inspiração que tenho através da Bíblia, das minhas meditações e orações. O suporte da minha família também foi fundamental. O trabalho e a parceria do meu técnico Akos Angyal, em quem tenho total confiança, foi e é essencial. Também devo isso aos meus patrocinadores e apoiadores pelo suporte financeiro. Não poderia esquecer da Associação, pois foi através do clube que conseguimos um lugar para chamar de nosso, até então estávamos pulando de galho em galho procurando um local para treinar. O clube nos deu esse suporte, um lugar onde pudéssemos trabalhar todos os dias, na Sede Náutica.

RAC: Como é ser o brasileiro que representará o país entre os melhores do mundo na paracanoagem no maior evento esportivo do planeta? Estar em casa tem um gosto especial?
LCC: É uma felicidade imensa e uma responsabilidade muito grande. Tenho trabalhado bastante, porque eu creio no que faço e no trabalho do meu treinador, por tudo que a gente já construiu. Já me sinto um vitorioso por ter chegado até aqui, mas claro que eu quero ir além e estou trabalhando para isso. Tem um gostinho especial por ser a minha estreia em um evento deste porte no meu país. Estar em casa e sentir a energia brasileira com certeza me ajudará a ter mais força e garra para conquistar o pódio, principalmente naqueles últimos 50 metros, quando a gente começa a procurar forças onde não sabe mais onde tem.

RAC: Como foi carregar a tocha no Piauí, seu estado?
LCC: Foi uma emoção muito grande. Estar no meu estado de origem, com toda a minha família por perto presenciando esse momento, foi maravilhoso. Foi gratificante receber o convite e vivenciar isso, é algo que ficará marcado para o resto da minha vida.

A abertura oficial dos Jogos Paralímpicos Rio 2016 acontece no dia 7 de setembro. As competições de Paracanoagem estão previstas para os dias 14 e 15. As provas da modalidade serão todas de 200 metros.